O nobre propósito da Ciência

Poucas coisas são tão inspiradoras quanto a Ciência. Sou suspeita para falar: além da docência e da gestão escolar, tive parte significativa da vida profissional voltada à pesquisa, tendo complementado uma graduação em Química, pela Mackenzie, com um mestrado e um doutorado em Tecnologia Nuclear, pela Universidade de São Paulo, que levaram nove anos. Falo, portanto, como educadora e cientista. Mas quero acreditar que a ideia de alguém se dedicar à busca pelo conhecimento tenha beleza e apelo universais.

Mais do que compreender a realidade que nos cerca, fazer Ciência é querer mudá-la para melhor. Deixar-se guiar não pela vida como ela é, mas pelo que ela pode ser.

Falo isso para dividir meu entusiasmo e meu orgulho pela 3ª edição do ConsCiência Sabin, o Prêmio de Pré-Iniciação Científica que realizamos a cada dois anos com alunos do Ensino Médio, como parte da nossa Mostra Cultural. Ao ver a relação de projetos de pesquisa inscritos na competição deste ano – inscritos voluntariamente, ressalte-se, pois a participação não é obrigatória –, sinto que estamos inspirando nos alunos esse propósito nobre do fazer científico, que é o de identificar problemas no mundo e propor soluções.

Vejo, por exemplo, que teremos projetos sobre o uso de biodigestores para a produção de biogás, ou sobre a geração de energia renovável de baixo consumo, e sei que aí estão jovens conscientes de dois desafios centrais da atualidade: a gestão de resíduos sólidos e a busca por fontes alternativas e limpas de energia. Vejo projetos que buscarão discutir representatividade em histórias em quadrinhos, poder midiático, vídeo games como ferramentas de aprendizagem, e sinto que eu mesma tenho muito o que aprender com meus alunos. Que eu preciso ouvir o que essa geração tem a dizer sobre política, comunicação, tecnologia, conhecer o tanto que ela tem a contribuir.

Poderia citar qualquer dos outros projetos inscritos; tenho certeza de que os visitantes que virão ver os trabalhos apresentados, no dia 21 de outubro, concordarão comigo de que estamos diante de jovens críticos, inteligentes, inspiradores.

E sei que eles continuarão sendo tudo isso, mesmo que não sigam carreira científica no sentido estrito. Porque esta é a outra beleza da Ciência: a prática da pesquisa exercita competências de enorme importância para o indivíduo em todas as áreas da vida. A capacidade de questionar, formular perguntas, selecionar fontes confiáveis, elaborar hipóteses e verificá-las. A interpretação de dados. A capacidade de ser autônomo, mas também de trabalhar em grupo. A criatividade para pensar o que pode ser diferente. A perseverança para errar, aprender com o erro e começar de novo.

Mesmo que só por um período da vida, fazer Ciência transforma o indivíduo irreversivelmente. Falo por experiência. Como educadora e como cientista.

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